São Tomás de Aquino
Era um sacerdote dominicano e
teólogo das Escrituras.
Ele levou a sério a máxima medieval de que “a graça aperfeiçoa e edifica a natureza; não o coloca de lado ou o destrói ”.
Portanto, na medida em que Tomás pensava sobre a filosofia como a disciplina que investiga o que podemos conhecer naturalmente sobre Deus e os seres humanos, ele pensava que a boa teologia escriturística, uma vez que trata esses mesmos tópicos, pressupõe boa análise filosófica e argumentação.
Embora Thomas tenha escrito algumas obras de filosofia pura, a maior parte de sua filosofia é encontrada no contexto de sua prática de teologia escriturística. De fato, acha-se Tomás envolvido no trabalho da filosofia, mesmo em seus comentários e sermões bíblicos.
Dentro de seu grande corpo de trabalho, Thomas trata a maioria das principais sub-disciplinas da filosofia, incluindo lógica, filosofia da natureza, metafísica, epistemologia, psicologia filosófica, filosofia da mente, teologia filosófica, filosofia da linguagem, ética e filosofia política.
Quanto à sua filosofia, Thomas talvez seja mais famoso por seus chamados cinco caminhos de tentar demonstrar a existência de Deus.
Esses cinco argumentos curtos constituem apenas uma introdução a um projeto rigoroso na teologia natural - teologia que é propriamente filosófica e, portanto, não faz uso de apelos à autoridade religiosa - que permeia milhares de páginas fortemente argumentadas. Thomas também oferece uma das primeiras discussões sistemáticas sobre a natureza e os tipos de lei, incluindo um famoso tratamento da lei natural.
Apesar de seu interesse pela lei, os escritos de Thomas sobre teoria ética são realmente centrados nas virtudes e incluem discussões extensas sobre a relevância da felicidade, prazer, paixões, hábito e a faculdade da vontade para a vida moral, bem como tratamentos detalhados de cada uma das virtudes teológicas, intelectuais e cardeais. Indiscutivelmente, a contribuição mais influente de Thomas para a teologia e filosofia, no entanto,
Em sua vida, a opinião especializada de Thomas sobre tópicos teológicos e filosóficos foi procurada por muitos, incluindo em épocas diferentes um rei, um papa e uma condessa. É justo dizer que, como teólogo, Thomas é um dos mais importantes na história da civilização ocidental, dada a extensão de sua influência no desenvolvimento da teologia católica romana desde o século XIV.
No entanto, também parece certo dizer - se apenas pela simples influência de seu trabalho sobre incontáveis filósofos e intelectuais em todos os séculos desde o século 13, bem como em pessoas em países culturalmente diversos como Argentina, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha. Índia, Itália, Japão, Polônia, Espanha e Estados Unidos - que, globalmente, Thomas é um dos 10 filósofos mais influentes na tradição filosófica ocidental.
Uma de suas ideias centrais é a rejeição do absoluto antagonismo entre a razão e a fé. Para Aquino, existiriam as “verdades da fé”, atingíveis apenas por meio da revelação cristã, às quais não poderemos chegar através da razão.
Porém, nem todas as verdades seriam alcançadas desse modo, existindo também as “verdades naturais teológicas”. Sendo a razão obra de Deus, poderíamos alcançar essas verdades tanto pela fé como pela razão. A fé e a razão seriam, muitas vezes, rios que desembocam num mesmo oceano.
Provas da existência de Deus
A primeira questão de que se ocupa Tomás de Aquino - na Suma Teológica, sua
obra máxima - é a das relações entre a ciência e a fé, a filosofia e a teologia.
Fundada na revelação, a teologia é a ciência suprema, da qual a filosofia é serva ou
auxiliar.
À filosofia, procedendo de acordo com a razão, cabe demonstrar a
existência e a natureza de Deus.
Profundamente influenciado por Aristóteles, Tomás de Aquino sustenta
que nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos, razão pela
qual não podemos ter de Deus, imediatamente, uma ideia clara e distinta.
Assim, para provar a existência de Deus, o filósofo procede a posteriori, partindo
não da ideia de Deus, mas dos efeitos por ele produzidos, formulando cinco
argumentos, cinco vias:
1) O movimento existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que
se move é movido por outro motor; se esse motor, por sua vez, é movido, precisará
de um motor que o mova, e, assim, indefinidamente, o que é impossível, se não
houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, que é Deus;
2) Há uma série de causas eficientes, causas e efeitos, ao mesmo tempo; ora, não é
possível remontar indefinidamente na série das causas; logo, há uma causa
primeira, não causada, que é Deus;
3) Todos os seres que conhecemos são finitos e contingentes, pois não têm em si
próprios a razão de sua existência - são e deixam de ser; ora, se são todos
contingentes, em determinado tempo deixariam todos de ser e nada existiria, o que
é absurdo; logo, os seres contingentes implicam o ser necessário, ou Deus;
4) Os seres finitos realizam todos determinados graus de perfeição, mas nenhum é
a perfeição absoluta; logo, há um ser sumamente perfeito, causa de todas as
perfeições, que é Deus;
5) A ordem do mundo implica em que os seres tendam todos para um fim, não em
virtude de um acaso, mas da inteligência que os dirige; logo, há um ser inteligente
que os dirige; logo, há um ser inteligente que ordena a natureza e a encaminha para
seu fim; esse ser inteligente é Deus.
Homem, alma e conhecimento
Para Tomás de Aquino, o homem é corpo e alma inteligente, incorpórea (ou
imaterial), e se encontra, no universo, entre os anjos e os animais.
Princípio vital, a
alma é o ato do corpo organizado que tem a vida em potência.
Contestando o platonismo e a tese das idéias inatas, Tomás de Aquino observa que
se a alma tivesse de todas as coisas um conhecimento inato, não poderia esquecê-lo,
e, sendo natural que esteja unida a um corpo, não se explica porque seja o corpo
a causa desse esquecimento.
Conhecer, para Tomás de Aquino, não é lembrar-se, como pretendia Platão, mas extrair, por meio do
intelecto agente, a forma universal que se acha contida nos objetos sensíveis e
particulares. Do conhecimento depende o apetite, ou o desejo, inclinação da alma
pelo bem.
O homem, segundo Tomás de Aquino, só pode desejar o que conhece, razão pela
qual há duas espécies de apetites ou desejos: os sensíveis e os intelectuais. Os
primeiros, relativos aos objetos sensíveis, produzem as paixões, cuja raiz é o amor.
Quanto aos segundos, produzem a vontade, apetite da alma em relação a um bem
que lhe é apresentado pela inteligência como tal.
Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino diz que, para o homem, o bem supremo é a
felicidade, que não consiste na riqueza, nem nas honrarias, nem no poder, em
nenhum bem criado, mas na contemplação do absoluto, ou visão da essência
divina, realizável somente na outra vida, e com a graça de Deus, pois excede as
forças humanas.
Catedral de ideias
Expressão e apogeu do mundo medieval, o tomismo é uma catedral de ideias, em
que a teologia do século 13 encontrou sua formulação mais coerente e mais sólida.
No entanto, nem sempre foi aceito pelos escolásticos medievais: os seguidores de
Duns Scotus , por
exemplo, combateram o seu intelectualismo.
Somente na segunda metade do século 16 o tomismo foi reconhecido como arma
de defesa e ataque da Contra-Reforma,
época em que surgiram os
grandes comentaristas do sistema, entre os quais o dominicano português
Johannes de Sancto Thoma (1589-1644).
Depois de uma época de esquecimento, entre os séculos 18 e 19, o tomismo
renasceu sob a denominação de neotomismo, escola filosófica representada, por
exemplo, pelos filósofos Étienne Gilson e Jacques Maritain .
No campo da política, Santo Tomás de Aquino dividiu as leis em lei natural (visando a preservar a vida), lei positiva (estabelecida pelo homem, visando a preservar a sociedade) e lei divina (que conduz o homem à vida cristã e ao paraíso, guiando as outras leis).
Para Aquino, como para Aristóteles, o homem é um animal social e político: a família é a primeira associação, e o Estado, sua ampliação e continuação.
O Estado, assim, deve existir, desde que subordinado, no que diz respeito à religião e à moral, à Igreja, a qual visa ao bem eterno das almas. Essa foi a concepção dominante da Igreja Católica, que seria depois combatida por Maquiavel.
Atualmente, são inúmeros os debates acerca das relações entre fé e ciência. Alguns, por um lado, propugnam a separação absoluta dos dois campos, pois, como disse Mário Sérgio Cortella, se, em ciência, é preciso ver para crer, em religião, é preciso crer para ver. Por outro lado, outros, como os deístas, acreditam que é necessário não existir contradição entre os dois campos para, assim, a fé ser confiável. A obra de Santo Tomás de Aquino, pregando algumas convergências entre fé e razão, pode iluminar esse debate.