Anselmo de Cantuária
Aosta, 1033/1034
Cantuária, 21 de abril de 1109
Nascido Anselmo de Aosta (por ser natural de Aosta, hoje na Itália), e também conhecido como Santo Anselmo, foi um influente teólogo e filósofo medieval italiano de origem normanda.
Foi Arcebispo de Cantuária entre 1093 e 1109 (sucedendo a Lanfranco de Cantuária, também um italiano), por nomeação deHenrique I de Inglaterra, de quem foi amigo e confessor, mas depois divergiu com ele na questão das investiduras. É considerado o fundador do escolasticismo e é famoso como o criador do argumento ontológico a favor da existência de Deus.
Viria mais tarde a ser canonizado pela Igreja Católica, e declarado Doutor da Igreja em 1720, pelo Papa Clemente XI.
Vida e obras
Santo Anselmo nasceu em Aosta, filho de um nobre, e de uma mãe rica, Ermenberga. Seguiu a carreira religiosa, estudou os clássicos e escreveu sempre em latim. Foi eleito prior em 1063, porque era considerado inteligente e piedoso. Sua biografia nos é contada pelo seu discípulo, Eadmer.
Foi comum na Idade Média que os religiosos buscassem o apoio da fé na razão. Anselmo escreveu uma obra sobre esse assunto. É considerado um dos iniciadores da tradição escolástica.

"Não só a habilidade dialética fez de Anselmo o precursor da Escolástica, como também o princípio teológico fundamental que adotou: fides quarens intelectum "a fé em busca da inteligência". Foi ele também quem forjou uma nova orientação à teoria dos universais e que reverteu em grande proveito para os intuitos da Teologia racional".
Anselmo buscava um argumento para provar a existência de Deus, e sua bondade suprema. Fala que a crença e a fé correspondem à verdade, e que existe verdadeiramente um ser do qual não é possível pensar nada maior.
Ele não existe apenas na inteligência, mas também na realidade. Anselmo desenvolveu uma linha de pensamento sobre essas bases, chamados de argumento ontológico, que foi retomada por René Descartes e criticada por Immanuel Kant, e ela estava numa obra chamada Proslógio.
Ele parte do fato de que o homem encontra no mundo muitas coisas, algumas boas, que procedem de um bem absoluto, que é necessariamente existente. Todas as coisas tem uma causa, menos o ser incriado, que é a causa de si mesmo e fundamenta todos os outros seres. Esse ser é Deus. Seus argumentos não foram totalmente aceitos.
Anselmo chegou a arcebispo da Cantuária em 1093. Escreveu outras obras importantes, Do gramático e Da verdade, ambos em latim.
Recebeu doações de terras para a Igreja, mas brigou com Guilherme, o ruivo, rei da Inglaterra pois não queria fazer comércio com os bens da Igreja. Isso foi considerado um desrespeito ao poder real, e Guilherme impediu Anselmo de viajar para Roma, desafiando o poder da Igreja.
Num dos seus primeiros livros, Monológio, em que apresenta sua visão de Deus, Anselmo fala que a essência suprema existe em todas as coisas e tudo depende dela. Reconhece nela onipotência, onipresença, máxima sabedoria e bondade suprema.
Ela criou tudo a partir do nada. Anselmo procurava desenvolver um raciocínio evolutivo sobre o que considerava ser a verdade, que estava contida na Bíblia.
Para Anselmo, o pensamento tem algo de divino, e Deus tem uma razão. Sua palavra é sua essência, e Ele é pura essência (essa noção não é nova) infinita, sem começo nem fim, pois nada existiu antes da essência divina e nada existirá depois. Para ela o presente, o passado e o futuro são juntos ao tempo, são uma coisa só.
E Ela é imutável, uma substância, embora seja diferente da substância das outras criaturas. Existe de uma maneira simples e não pode ser comparado com a consciência das criaturas, pois é perfeito e maravilhoso e tem todas as qualidades já citadas.
O verbo e o espírito supremo são uma coisa só, pois este usa o verbo consubstancial para expressar-se. Mas a maneira intrínseca que o espírito supremo se expressa e conhece as coisas é incogniscível para nós.
O verbo procede de Deus por nascimento, e o pai passa a sua essência para o filho. O espírito ama a si mesmo, e transmite esse amor.
Para Anselmo, a alma humana é imortal, e as criaturas seriam felizes e infelizes eternamente.
Mas nenhuma alma é privada do bem do Ser supremo, e deve buscá-lo, através da fé. E Deus é uno. Para contemplá-lo devemos nos afastar dos problemas e preocupações cotidianos e buscá-lo.
Ele é onipotente embora não possa fazer coisas como morrer ou mentir. É piedoso, em parte por ser impassível, o que não o impede de exercer sua justiça, pois ele pensa e é vivo.
Anselmo fala muito da crença divina do Pai, do filho e do espírito humano. Grandes coisas esperam por aquele que aceitar Deus e buscá-lo. Santo Anselmo influenciou muito o pensamento teológico posterior.
Anselmo luta para afirmar a base racional das doutrinas cristãs da criação e da Trindade, que ele discutiu primeiro afirmando que seres humanos não poderiam conhecer Deus em si, mas apenas através de uma analogia. A que ele utilizou foi a da auto-consciência do homem.
A peculiar dupla natureza da consciência - memória e inteligência - representam a relação do Pai com o Filho. O amor mútuo entre os dois, que procede de uma relação que eles mantém entre si, é o Espírito Santo. As demais doutrinas teológicas sobre o homem, como o pecado original e o livre arbítrio, foram desenvolvidas no "Monológio" e em outros tratados.
Cur Deus Homo e a visão da satisfação na teoria da Expiação
A visão da satisfação na teoria da Expiação foi formulada por Anselmo em seu obra:
"Cur Deus Homo" ("Por que Deus foi feito Homem?").
Ele tentou ali explicar a necessidade racional do mistério cristão da expiação. O ponto central do argumento é que o ser humano pode compensar pelo pecado humano contra Deus, mas sendo a compensação impossível para qualquer ser humano individual, ela só poderia ser feita por Deus.
Um ato assim só seria possível para Jesus Cristo, o Filho, que é tanto Deus quanto homem. A expiação é alcançada através da morte de Cristo, que tem valor infinito. Em última instância, na interpretação de Anselmo sobre a expiação, a justiça e a misericórdia divina em seus sentidos mais amplos se mostram completamente compatíveis.
De acordo com esta visão, o pecado seria um débito frente à justiça divina que precisa ser pago de alguma forma. Assim, nenhum pecado, segundo Anselmo, pode ser perdoado sem uma devida "satisfação". Porém, o débito incorreto é algo muito maior que um ser humano é capaz de pagar.
Todo serviço que uma pessoa pode oferecer a Deus já está alienado por conta de outros débitos para com Deus.
A única forma pela qual se pode dar a satisfação - para que o homem se livre de seus pecados - seria pela vinda de um "Redentor" que fosse também tanto homem quanto Deus.
Ele próprio teria que ser livre de todo pecado e, portanto, não ter nenhum débito incorrido. Sua morte seria então maior do que todos os pecados incorridos pela humanidade e corresponderia a uma superabundante "satisfação" à justiça divina